«TER PÁTRIA NÃO É NASCER NUM CERTO SÍTIO, É TER DE COMER, TER CASA, ESCOLA, ASSISTÊNCIA MÉDICA». Av. Dr. Magalhães Lemos. Edifício Impacto, Bloco 21. befelgueiras@gmail.com Telemóvel 917684030
Na hora em que escrevo, e pelo terceiro dia consecutivo, novos incidentes e distúrbios no bairro da Bela Vista, noticia o telejornal.
Salvaguardando os casos de polícia, porque efectivamente também os há, vive-se nas sociedades hodiernas um clima de revolta social latente. Pequenos e grandes incidentes são sinais que urge saber ler e interpretar correctamente. Os poderes autistas; ensimesmados, convictos da razão que lhes assiste, cépticos quanto à construção de alternativas válidas, marcham para o abismo.
E não adianta alijar responsabilidades, culpar agitadores comunistas, sindicalistas e outros. Pois quem, na sua miopia, nos conduziu para o beco sem saída do neo-capitalismo com toda a certeza não vai arrepiar caminho. Não contentes com os anéis procuram agora também, os lacaios do grande capital, arrancar-nos os dedos.
Por toda essa Europa a crise reuniu todos os ingredientes necessários à explosão social nas ruas. É assim na França, tradicionalmente revolucionária, é assim na Alemanha mais circunspecta, é assim em todos os países onde morrem os sinais de esperança e a cólera das populações pressagia a revolta. Quando faltam a dignidade, a justiça e o pão, ao povo só resta a revolução.
Roça a caricatura que dirigentes partidários, que mudam de camisola com o maior despudor, promovam as suas mortiças campanhas eleitorais em plena comemoração do 1º de Maio entre trabalhadores desempregados e ainda se consigam vitimizar. É o completo despudor de quem há muito renegou a causa e vendeu a alma ao diabo.
Se ao aumento do sentimento de injustiça social − pois são sempre os mesmo que pagam as crises, os impostos, os devaneios de banqueiros oportunistas (salvam-se bancos e seguradoras mas nada se faz pelos empregos) – se juntar o abafar dos legítimos anseios das populações, impedir-se a expressão do seu direito à indignação então fomentar-se-á, sem dúvida alguma, o cadinho das violências sociais, da radicalização e do sentimento de impotência de quem trabalha que levam à descrença, ao desespero e à revolta.
A revolta, a insurreição e revolução espreitam em cada esquina. Às tradicionais forças anti-capitalistas e anti-globalização económica juntam-se agora hordas de deserdados, de novos pobres (gente com trabalho remunerada mas que não sai do limiar da pobreza, e são já um terço dos pobres em Portugal), imigrantes, excluídos.
Se os poderes políticos se mantiverem autistas; insensíveis à falta de perspectivas de futuro, à falta de empregos que permitam vidas dignas, senão atenderem à superação dos medos que hoje proliferam nas sociedades, poderão ter nas mãos os fósforos que atearão o rastilho das convulsões sociais.
J Santos Pinho in "O Activo", mensário, número 327/MAIO/2009