«TER PÁTRIA NÃO É NASCER NUM CERTO SÍTIO, É TER DE COMER, TER CASA, ESCOLA, ASSISTÊNCIA MÉDICA». Av. Dr. Magalhães Lemos. Edifício Impacto, Bloco 21. befelgueiras@gmail.com Telemóvel 917684030
Sexta-feira, 2 de Junho de 2006
Queremos discutir modelos de avaliação que valorizem o desempenho dos professores

Foto de Paulete Matos

      Queremos uma escola exigente, uma escola exigente tem que ter profissionais de grande qualidade. Por isso, quando hoje discutimos as escolhas para a carreira docente acusamos as propostas do governo de não cumprirem essa finalidade fundamental: a de colocar a qualificação dos docentes no centro das medidas propostas. Queremos discutir modelos de avaliação que valorizem o desempenho dos professores, que lhes confiram responsabilidade, que reforcem a sua profissionalidade e que reconheçam a importância e o peso social do seu desempenho.

      Intervenção completa da deputada Alda Macedo

      Hoje, que é o dia internacional da criança faz todo o sentido colocar a educação das crianças e dos jovens no centro do debate parlamentar, trazendo à discussão a política educativa do governo, muito particularmente para rejeitar a forma desastrosa como a Ministra da Educação transforma o que devia ser uma política mobilizadora para resolver os graves problemas da educação com que o país se defronta, numa ofensa para com os profissionais que dão corpo e rosto a essa política.

      Romper com o cerco de anos de um modelo de desenvolvimento fundado na exploração intensiva do trabalho precário pouco qualificado que conduziu Portugal a uma extraordinária fragilidade obriga a equacionar seriamente o papel da escola pública e obriga a um programa concertado da sua qualificação.

      Obriga, sobretudo à resolução dos problemas maiores com que nos defrontamos hoje e que no essencial se traduzem em baixos níveis de proficiência cognitiva, elevadas taxas de insucesso escolar e elevadas percentagens de abandono escolar precoce. Só uma escola pública de qualidade pode começar a resolver estes problemas.

      Insucesso e exclusão são os grandes males de que padece a educação em Portugal. Tratar os professores como se de um bando de malfeitores se tratasse não só não resolve nenhum destes problemas como resulta na desvalorização da sua função social e no agravamento da sua desmobilização.

      O que a Ministra da Educação está a fazer é o mesmo que um realizador de cinema que matasse a sua personagem principal. Sem ela o realizador fica sem argumento. Sem professores a Ministra da Educação fica sem actores que levem a cabo aquilo que precisa de ser uma reforma profunda mas também agregadora, mas também responsabilizadora de todos os intervenientes na educação.

      A escola não resolve sozinha os problemas que decorrem da pobreza extrema, da exclusão social, do desemprego, da violência desumanizada das nossas cidades.

      Não só não os resolve como é ela mesma a primeira vítima e é ela mesma que reflecte os primeiros sinais do agravamento das contradições sociais em que vivemos.

      Contudo, não sendo a solução milagrosa de todos os males, ela é um parceiro fundamental na promoção de progresso, de coesão, de emancipação. Não existe transformação social sem conhecimento nem técnica; não existe transformação social sem arte nem criatividade; não existe transformação social sem sentimentos nem afectos.

      Revalorizar a educação é por isso a chave de qualquer projecto de desenvolvimento. Para tanto é essencial que a escola recupere um sentido e um valor para aquilo que são as suas competências específicas no campo da educação.

      Não basta produzir pequenas reformas que podem dar pequenos passos para produzir pequenas mudanças. E isso foi tudo o que o Governo conseguiu produzir ao longo deste ano de governação.

      Falta todo o resto, falta atribuir um valor real aos saberes de forma a ser capaz de seduzir as crianças, os jovens e os adultos para essa extraordinária aventura que é a descoberta do conhecimento.

      Falta tornar a escola numa escola verdadeiramente inclusiva, que não desiste de nenhuma das suas crianças, que conhece e interpela as comunidades onde está inserida.

      Falta desenhar projectos educativos que se dirigem a todos e a todas mesmo às pessoas que já desistiram de ter um projecto de vida.

      Tudo isto é o que falta para colocar a educação na fasquia mais alta da exigência.

      E tudo isto está por fazer. Não vale vir a Ministra da Educação e fazer batota ao jogo, transferindo responsabilidades pela falência da organização escolar e do poder político exclusivamente para os professores, injuriando toda uma classe pelo caminho.

      Queremos uma escola exigente, uma escola exigente tem que ter profissionais de grande qualidade. Por isso, quando hoje discutimos as escolhas para a carreira docente acusamos as propostas do governo de não cumprirem essa finalidade fundamental: a de colocar a qualificação dos docentes no centro das medidas propostas.

      Queremos discutir modelos de avaliação que valorizem o desempenho dos professores, que lhes confiram responsabilidade, que reforcem a sua profissionalidade e que reconheçam a importância e o peso social do seu desempenho. No entanto não é possível equacionar modalidades de avaliação se não forem paralelamente equacionados os modos e modelos de formação inicial e contínua, bem como a forma de certificar as entidades formadoras que têm responsabilidade nesta área. Assim como não é possível equacionar um modelo de avaliação que não corresponda a um reconhecimento sistemático da qualidade do desempenho.

      Não nos conformamos com soluções fáceis e populistas como as que o governo colocou em cima da mesa. Deixar os professores reféns de pressões individuais dos pais ou dos resultados dos alunos dá a aparência de promoção da participação mas não é outra coisa que não seja um exercício de deformação do papel da avaliação, demolidor da decência mais elementar.

      Conhecemos o papel perverso que os rankings das escolas desempenharam. Sob a capa de transparência de informação tiveram um papel determinante no agravamento de processos de guetização das escolas. Conceber a avaliação dos professores e a sua progressão na carreira dentro da mesma lógica teria como resultado a criação de guetos dentro de guetos e seria extraordinariamente demolidor para a escola pública.

      A avaliação dos professores tem que ser instrumento para a retribuição das boas práticas pedagógicas e didácticas, tem que ser ao mesmo tempo um instrumento de aferição das necessidades de formação e de correcção de escolhas e percursos, assim como não pode deixar de ser equacionada na relação dinâmica entre o docente enquanto indivíduo e enquanto parte de uma organização complexa.

      Não é possível portanto aceitar um modelo de avaliação que tem um objectivo escondido que é o de conter e retardar o acesso dos docentes aos níveis mais remunerados da carreira docente.

      A defesa da escola pública não pode ficar limitada a declarações generosas de intenções que não correspondem às políticas que produzem. A escola pública é o garante da democracia em educação, ela é território privilegiado para colocar a educação ao serviço do desenvolvimento, por isso é indispensável que o mesmo grau de exigência de qualidade que lhe conferimos seja conferido à políticas educativas onde não pode haver lugar para cedências nem para a ausência de rigor nem para facilidade populista das propostas, e muito menos para a generalização da culpabilização dos professores que devem ser protagonistas privilegiados da mudança.


sinto-me:

publicado por befelgueiras às 14:51
link do post | comentar | favorito

mais sobre mim
pesquisar
 
links
Julho 2016
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
14
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


últ. comentários
Encontrei esse mesmo texto na nova Apostila Decisã...
Olá Carlos Carvalho!!!!!A campanha do bloco vai de...
Parabéns pelo post. Visitem o terradesousa.blogspo...
Olá,Meu nome é Priscila Andrade e faço parte da eq...
Acabou-se a «mama» ao oportunista de Caramos?Ou el...
Pois, pois... Mas pelo menos não alinhava por dois...
Foi um resultado bom demais, mais um candidato pat...
E AS IDEIAS QUANDO É QUE VEM ??????????ANTES DOS A...
Bloco Esquerda Felgueiras para Liliana mostrar det...
2009/9/25 Liliana Costa Rádio NFM <liliana.cost...
mais comentados
subscrever feeds
blogs SAPO
as minhas fotos
arquivos

Julho 2016

Junho 2016

Setembro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Em destaque no SAPO Blogs
pub