«TER PÁTRIA NÃO É NASCER NUM CERTO SÍTIO, É TER DE COMER, TER CASA, ESCOLA, ASSISTÊNCIA MÉDICA». Av. Dr. Magalhães Lemos. Edifício Impacto, Bloco 21. befelgueiras@gmail.com Telemóvel 917684030
Domingo, 2 de Abril de 2006
O poder da comunicação social
      O poder da comunicação social

        A comunicação social é hoje, no seu conjunto, algo mais que o «quarto» poder. Vivemos numa época em que, praticamente, não há uma notícia boa. O próprio desaparecimento de valores e referências é angustiante. Ora neste contexto a política e os políticos que mais se expõem são muitas vezes transformados nos bombos da festa. O facto da comunicação social ser fortemente critica do poder político não é sintoma de maior liberdade de expressão, significa, isso sim, que efectivamente os políticos têm cada vez menos poder.

            Se fizermos uma retrospectiva em relação à preponderância da imprensa, particularmente do audiovisual, rapidamente concluímos que – nos últimos 32 anos (para nos limitarmos apenas ao período democrático mais recente) – a sua influência é devastadora. Apesar de não ter ainda conseguido eleger presidentes da república como quem vende sabonetes, a verdade é que constrói e destrói figuras e mitos. Vejam-se os casos dos cartones, casa-pia e quejandos.

            A verdade é que políticos como José Sócrates, Marcelo Rebelo de Sousa, Santana Lopes e Paulo Portas, antes de liderarem partidos e mesmo governos, foram fortemente favorecidos e as suas carreiras políticas tiveram grandes impulsos com as passagens pelas televisões no papel de comentadores.

Só aos mais distraídos terá passado despercebida a influência paternalista [fruto da necessidade permanente que alguns títulos têm de notícias sensacionalistas] que a comunicação social teve na eleição de uns quantos caciques autárquicos. O mais curioso é que todos – sob suspeita – conseguiram estabelecer com a comunicação social, e dela receber, um tratamento privilegiado. De suspeitos do costume rapidamente passaram a vítimas do sistema e toda a cobertura mediática das suas campanhas deixou de se centrar na resolução dos problemas das comunidades para incidir na resolução dos seus imbróglios pessoais.

            Veja-se por exemplo a última campanha autárquica em Felgueiras.

            Discutiram-se, por ventura, assuntos como a organização do território; o alargamento ou não das competências camarárias; o funcionamento das empresas municipais; o endividamento das autarquias?

            Obviamente que não!!!

             Prevaleceu a informação espectacular e garrida. Com a RPT e SIC a fazerem e desfazerem critérios pseudo-jornalísticos para incluírem e excluírem – dos debates que promoveram – as candidaturas ao sabor das audiências. Hoje vale muito mais a emoção do que a razão.

O que os debates das autárquicas provaram foi o seguinte:

             - O que hoje é mentira transforma-se, como por magia, na mais cristalina das verdades.                       

- Amigos e cúmplices tornam-se inimigos jurados.

            - Valores como a honradez, a decência e a dignidade do carácter são arrasados pelo único requisito que hoje consolida o sucesso: ter uma grande Lata!

            Esta é que é a triste realidade. Perdeu-se a capacidade de fazer pedagogia cívica e ganhou-se em sensacionalismo demagógico e populista.

            A comunicação social tem de corrigir o seu pendor big-brotheriano de exaltação da mediocridade e assumir um papel activo na educação e transformação da sociedade de que é parte integrante. Os média estão mergulhados na falta geral de credibilidade. Cada vez mais os cidadãos acham que os média não são fiáveis.

            Os média já foram um instrumento essencial da democracia. Hoje são parte do problema que mina e descredibiliza essa mesma democracia.

        Entre os factores que levam a comunicação social a envolver-se na crise da democracia destacamos: o deixar de lado a liberdade de expressão para defender a perspectiva economicista das empresas que a detêm.

A intervenção social com ideal cívico de modo a promover uma sociedade mais humana, mais democrática, mais igualitária foi substituída pelo “rentabilidade dos projectos”!!!

            Trinta e dois anos depois do 25 de Abril não só o país não se desenvolveu como, em muitos aspectos, até regrediu!

É o período da cobardia institucionalizada fruto do medo dos medos. Já não é preciso que alguém proíba. Não. As pessoas já interiorizaram a auto-censura. Para quê denunciar?! Pois se o que interessa não é resolver os problemas mas sim punir quem ousa denunciá-los!

O país é hoje o Portugal saloio que como desenvolvimento apenas concebe a proliferação do betão. A comunicação social brinda-nos, até à exaustão, com o Portugal promíscuo onde os donos da bola, os caciques locais e os senhores da política se sentam à mesma mesa para, em conluio e em proveito próprio, delapidar o património que devia ser de todos.

Infelizmente o país transformou-se no Éden dos chico-espertos, dos negócios pouco claros, das influências pessoais, do culto da imagem, das pessoas providenciais, enfim, dos corruptos.

       Portugal tornou-se, assim, num país com personagens tipo e episódios muito específicos. Todos conhecemos o caso típico do empresário que subiu a pulso, se fez a si próprio e que do nada construiu um império; as polémicas negociatas de automóveis, de terrenos e urbanizações; o presidente da câmara e os (in) felizes desenvolvimentos que o clube da bola a que presidiu; o quem não está comigo está invariavelmente contra mim, a que se seguem os favores e as prebendas pessoais; uma incontornável instituição financeira para quem o dinheiro não tem cor.

O amiguismo, o compadrio e o negocismo sobrepõem-se à capacidade, à competência, à legitimidade.

Talvez a Internet fomente uma efectiva democratização da informação ao permitir o acesso à informação e à sua livre produção – através dos blogs, por exemplo.

Não podemos esquecer que o poder político, goste-se ou não, é o único poder legítimo porque emana da nação através do sufrágio universal. Os políticos servem-se da comunicação social para chamar a atenção para os problemas dos cidadãos.

O problema é que já não é o primeiro poder pois foi subordinado pelo poder económico e este é difícil de criticar pois tem os seus “ideólogos” pagos a “peso de ouro” para “fazer” a opinião pública.

        Os mass média estão com uma tendência neoliberal que sufoca. O poder económico e financeiro determina as opções políticas. E esta é a guerra que temos de travar em nome das liberdades individuais e colectivas.

                                                                           J. Santos Pinho


sinto-me:

publicado por befelgueiras às 12:24
link do post | comentar | favorito

3 comentários:
De Diablo a 5 de Abril de 2006 às 17:26
Meu Amigo:
Acha mesmo isso tudo, ou é só para nos tentar atrair às suas causas?


De António Mª a 5 de Abril de 2006 às 17:39
Excelente intervenção no ESTGF.
Sempre defendendo os seus ideais com convicção.
Tem de vir cá mais vezes para "esclarecer" os estudantes.


De Mª Luísa a 6 de Abril de 2006 às 16:10
Parabéns pela coragem do seu testemunho.
Infelizmente nenhum dos líderes dos outros partidos convidados se dignou comparecer.
Mas já estamos habituados a que os políticod da nossa praça só apareçam por cá na altura das eleições.


Comentar post

mais sobre mim
pesquisar
 
links
Julho 2016
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

10
11
12
13
14
16

17
18
19
20
21
22
23

24
25
26
27
28
29
30

31


últ. comentários
Encontrei esse mesmo texto na nova Apostila Decisã...
Olá Carlos Carvalho!!!!!A campanha do bloco vai de...
Parabéns pelo post. Visitem o terradesousa.blogspo...
Olá,Meu nome é Priscila Andrade e faço parte da eq...
Acabou-se a «mama» ao oportunista de Caramos?Ou el...
Pois, pois... Mas pelo menos não alinhava por dois...
Foi um resultado bom demais, mais um candidato pat...
E AS IDEIAS QUANDO É QUE VEM ??????????ANTES DOS A...
Bloco Esquerda Felgueiras para Liliana mostrar det...
2009/9/25 Liliana Costa Rádio NFM <liliana.cost...
mais comentados
subscrever feeds
blogs SAPO
as minhas fotos
arquivos

Julho 2016

Junho 2016

Setembro 2015

Dezembro 2014

Novembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Agosto 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Agosto 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Em destaque no SAPO Blogs
pub