J Santos Pinho
A ciência hodierna não crê em milagres e contribui para o esmagamento de qualquer crença que ultrapasse a fria e inumana demonstração dos números. Logo, pela lógica aristotélica, se não és um número não existes. Não, não se trata aqui do cartesiano, penso logo existo. Muito pelo contrário até. Pretende-se mais o, existes? Logo pensa!
É que quem lida com pessoas e não com algarismos tem a sensibilidade necessária e suficiente para reagir com a mais genuína indignação face a governantes que tudo reduzem a números fiscais contabilizados e com o destino traçado nas folhas de um qualquer programa do excel logo vertidas em gráficos e figurações aviltantes para a condição humana.
Veja-se a recente questão dos refugiados. Escorraçados e fugindo da fome e da morte certas também eles se transformam em números, em quotas como a do leite, da manteiga, das sardinhas, do atum ou qualquer outra safra que contribui para o enriquecimento de uma minoria de privilegiados. Num dia o primeiro-ministro português vem, ufano e com a humanidade que se lhe desconhece, gabar-se perante o país que conseguiu baixar a quota de refugiados, que o país teria de receber, de um número superior a dois mil para um valor que se situava nos mil e quinhentos! Mais uma grande vitória das políticas austeritárias que, como bem diz o Papa Francisco, matam. Mas noutro dia, bastou que a patroa Merkel o ordenasse para que o servil Passos Coelho – como sempre, dando o dito pelo não dito – logo generosamente se disponibilizasse para receber cerca meia dúzia de milhar de refugiados. Bondoso para o chefe de governo que mais contribui para o aumento da pobreza no Portugal democrático.
Profissionais de saúde, de ensino, alunos, funcionários públicos em geral, tudo encaixa perfeitamente nas restritivas quotas da austeridade dos cordatos pagadores de impostos. Parece que a única coisa que, de fato, não cabe nas folhas de cálculo dos computadores é a imensidão da corrupção, do compadrio, do clientelismo e da impunidade dos poderosos do famigerado arco da (des)governabilidade.
Na política revanchista da direita – e num acerto de contas com as conquistas do PREC – a educação, a saúde, a ciência e qualquer indicador de bem-estar foram chamadas a capítulo e sumariamente decapitadas. O país empobreceu, as classes médias foram destruídas, os ricos cada vez mais ricos e os mais desfavorecidos cada vez mais pobres. Tudo isto em nome de um crescimento económico que não surge; da diminuição de uma dívida pública que, paradoxalmente com o atual governo, pula de cerca noventa e poucos por cento para cerca de 130 %; de um défice que atingirá 7,4% do PIB. A única forma de reverter esta situação é acabar definitivamente com as políticas de direita sejam elas promovidas pelo PPD/PSD ou pelo PS. É à volta da convergência de um programa político de governo que se farão os entendimentos das esquerdas (e não negociando qualquer orçamento de queijo limiano) que quase já não mais reivindicam que as práticas da social-democracia nórdica dos 30 anos gloriosos ou, mais remotamente, do New Deal norteamericano dos anos 30 e 40 do século vinte.
Para uma efetiva política de esquerda há necessidade de uma profunda revisão de ideologias. Nas atuais circunstâncias tem de se partir das reais necessidades das pessoas mais desfavorecidas. A nova forma de fazer política, como refere Boaventura Sousa Santos, tem de ter como centralidade os cidadãos vilipendiados. Provam-no a emergência de novas organizações políticas que surgem do movimento social. Na Grécia com o Syriza, na Espanha com o Podemos, na Inglaterra com Corbyn. Que propõem estes «perigosos radicais»? Vejamos: educação pública gratuita; um sistema público universal de saúde sem exclusões; controle púbico dos bancos, da energia e dos setores estratégicos como forma de promover uma maior igualdade social; limites aos bónus dos gestores e aos salários mais altos; um ordenado mínimo nacional; habitação a custos controlados e mais habitação social; impostos mais elevados para os mais ricos e para as grandes empresas; alívio para os mais pobres e para as classes médias; acabar com as políticas de austeridade que comprovadamente promovem clivagem dos rendimentos e aumentam assimetrias sociais e regionais. No fundo reestruturar as impagáveis dívidas dos países, não colocar em risco as suas democracias e promover o bem-estar dos cidadãos.
Depois do achincalhamento da Grécia e da sua tão vergonhosa quão desnecessária humilhação pelas instituições da união europeia, em Portugal, nas eleições do próximo dia 4 de outubro saber-se-á resistir à estratégia do medo e de intimidação daqueles que apenas, como medidas de resolução da crise, apresentam mais austeridade, mais pobreza e mais miséria. A estratégia do medo – nós fomos maus (o país está melhor, as pessoas é que estão pior), mas os outros serão o descalabro – pode resultar em encomendadas sondagens mas será desmentida pela realidade da votação do próximo domingo.
Reformados, pensionistas, funcionários públicos e precários, desempregados e esmagados pela carga fiscal não esquecerão as tropelias, todas as mentiras de quem tudo, irrevogavelmente, lhes prometeu e em tudo lhes falhou. Pensões e salários esbugalhados, direitos sociais diminuídos; cortes cegos nos cuidados de saúde, na assistência social, no ensino, na ciência e na cultura. O atiçar as gerações mais novas contra pais e avós (a peste grisalha); escorraçar a geração mais nova para o estrangeiro acusando-a de ser piegas e apática nas suas almofadas de conforto, contam-se entre as patifarias do atual governo que conta, agora por altura das eleições, com a amnésia das populações para que possa continuar a servir os interesses do grande capital financeiro que atenta contra os avanços civilizacionais dos direitos humanos, asfixia as pessoas, degrada as democracias e põe em causa a sustentabilidade do planeta.
Não há escolhas ideais dizem alguns. Será. Mas não é menos verdade que não há duas austeridades, uma má e outra pior. PàF e PS, com ou sem a muleta CDS, terão de dar ouvidos à voz do Papa Francisco (por onde andam as práticas da matriz cristã que queriam inscrever na famigerada constituição europeia?) que se insurge, também ele, contra a austeridade que mata. Contra as mentiras dos partidos do chamado arco da governabilidade. Exigimos gente de verdade e que fale a verdade. Não precisamos de recrutar fotografias de bancos de dados para retratar a nossa realidade. Os novos emigrantes, os jovens licenciados ou não, sem emprego nem perspetivas de vida, são os nossos filhos; os desempregados de longa duração e os mais desprotegidos são os nossos irmãos; os mais velhos, mais fracos e vulneráveis são os nossos pais e avós.
O Bloco de Esquerda é o exemplo vivo da convergência à esquerda. Com uma inigualável democracia interna, fruto do seu código genético abrangente, foi o partido mais propositivo da última legislatura. Sendo o partido da oposição com menos deputados no parlamento foi o que, no cômputo geral, mais propostas apresentou e mais propostas conseguiu fazer aprovar. Os seus deputados foram incansáveis nos trabalhos e dos mais profícuos nas comissões parlamentares como, aliás, até os seus adversários políticos são capazes de reconhecer.
A austeridade só afunda o país. A dívida cresce ao invés de diminuir. A inflação é mais do dobro do previsto e do que foi prometido aquando dos sacrifícios impostos. Para acabar com a economia de casino daqueles que só lucram com o empobrecimento e o aumento da miséria a solução é votar. Fazer parte da solução e não do problema. Resistir e ousar desobedecer à austeridade. Criar emprego e recuperar direitos. Modernizar o país e aprofundar a democracia.
Não esqueçamos que não votar, para mostrar desagrado e insatisfação, é deixar que os outros decidam por nós. No próximo domingo é necessário votar, também, para avaliar o não cumprimento das promessas eleitorais. Não estamos condenados à exploração e à pobreza. O trabalho fez-se para a realização do homem e não o homem para escravo do trabalho. Não queremos esmolas queremos trabalho digno e com direitos. Queremos mais justiça social. Porque os partidos bem como os políticos não são todos iguais é urgente escolher gente série, gente de verdade, de contas certas. Votar no Bloco de Esquerda é voltar a acreditar nos valores da liberdade e da igualdade na construção de uma sociedade mais fraterna, mais igualitária e mais solidária. Estamos vivos. A felicidade constrói-se e está nas nossas mãos.
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